Sorvete pra Quatro

Um refresco para os dias quentes.

2005/09/10

O amor é como uma flor roxa que começa na boca e termina na coxa. Coxa é Dona Matilde, outrora Carmela, a flor da Casa da Parede Violeta. E triste esse amor, que com mil nomes morreu de velho, e sem renome. Era um amor de puta. Um amor de vai e vem, quiçá o maior do mundo, quiçá alguém tenha chorado no seu enterro.
A vida continua; afinal, não importa em quantos pedaços partam o coração, o mundo não para pra ninguém juntar os Cacos. Entretanto burro é o amor, não tem tempo e nem sustento. Não paga as contas e além de cego é surdo. Tão surdo que não ouviu o “volta logo pra mim” e não viu o brilho nos olhos se apagando. O espelho ficou com os créditos (ou débitos) do tempo.
Que coisa, afinal, tudo passou. Nada dura pra sempre (será?). Pobre do espelho, espelho meu: existe alguém mais complicado do que nós? Eu e Carmela, terra de brincar com mato, fogueira pra brincar de casinha, matar as lagartas a pedradas e duas meninas sarrando entre os girassóis da chácara em Manoel Ribeiro. A infância corre como um raio no céu de meio dia, quando começam os anos da (pré)maturidade. Agora começa a dúvida mais cômica, eu e Carmela nos amamos ou só brincamos? Nesses tempos mais modernos fica o amor. O que será o amor além de três segundos de puro atravessamento e plena generosidade? Esses três segundos valem os outros dias de trabalho, fome, distância, sacanagem e aquela sensação maravilhosa de não saber o que vem depois? Só sei que nada supera o valor de tentar a sorte nesses tempos de azar.
- Madame...
- Oui, chérrie?!
- Seu banho está pronto. Posso servir a champanhe?
- Deve.
Eu e Carmela, terra de brincar com mato, fogueira pra brincar de casinha, matar as lagartas a pedradas e duas meninas sarrando entre os girassóis da chácara em Manoel Ribeiro. Repetitivo?
Ele veio com grandes mão e dinheiro, perfume e sorriso. Ela esperava molhadinha, como dia fresco. Mas certas coisas não pagam outras. E ela teve o que lhe deviam, mas não foi como quis. Só que convenhamos a vir que é melhor ser feliz só do que sofrer a dois, a três, de quatro. Talvez não, a dor faz parte da vida. Dói o parto, o cabaço, o adeus. Dói saber que faltam 16 linhas para o fim.
















ML > co-escritor: Taruga