Sorvete pra Quatro

Um refresco para os dias quentes.

2005/09/13

O anjo.

Isabel bebe água no corredor escuro do colégio.
No corredor escuro, percebe-se a blusa e a saia desajeitadas e a pontinha da renda de uma calcinha grande.
Ela seca a boca, ajeita a roupa e corre pra fila do confere.
Ao longe, no pátio, o professor de Matemática ri de Isabel e seu jeito moleca.
Isabel exibe um ar de conquista e um rubor de segredo maldito.
Mais cedo, enquanto pulava o muro do colégio - primeiro o tênis, depois Isabel -, foi surpreendida por um anjo. Seus olhos presos aos dele por intermináveis instantes, causava-lhe combustão correndo no corpo dando-lhe calores e molhando sua calcinha.
Ele secou a testa com o verso da mão, sujando com graxa o rosto negro de um homem grande, jovem, forte.
Com seus olhos presos nos dele, ela vai se desarrumando mecanicamente. Desabotoa a blusa, encurta a saia, levanta a meia, trocando os sapatos pelo tênis cano-longo, solta os cabelos. Então, desviou o seu olhar dos olhos dele para as calças. Riu-se do volume e saiu se abanando. Na pressa, a estabanada caiu aos pés do gigante. Ele a pegou no colo e, olhando em seus olhos, disse em um certo tom de deboche, se confundindo:
- Um anjo fugindo do céu!. Hehehehe...
Isabel imprime-lhe um beijo violento e como sugasse suas energias pela boca, correu com mãos de mil-mãos pelo corpo do anjo tentando tirar-lhe a roupa.
Num controle extremo, o monstro arranca-lhe, do peito, a pequena e pergunta:
- Quantos anos você tem?
- 21!
- Quantos?
- Quatorze e meio, quase quinze.
Nervoso, ele diz:
- Pula o muro de volta, menina, pula o muro de volta. Pula. Pula antes que eu cometa um crime. Pula, antes que eu te devolva para a diretora do colégio.
Isabel sumiu como gato fugido. No caminho para o pátio, enquanto se arrumava no corredor escuro, ouvia gemidos. Gemidos que preenchiam o pensamento da menina.

Uma mulher negra chega em casa cansada.
Só há uma luzinha acesa - a do quarto.
- João voltou! – ela pensa. – João voltou! - ela grita. E, nu, na cama, esperando por esta mulher, está João, o anjo de Isabel.
Ela sufoca-lhe com beijos e ele a come com vontade. Enterrando, teso, o falo, em toda negritude daquela mulher.
- Porque você me deixou? Dois meses. Não. Três. Hoje faz três. Saiu no carnaval e não voltou mais.
- Quebrei a cabeça e o braço na queda. Mas você me esperou, não foi?
Novamente João vai embora.
Agarrada aos seus pés, Ivaneide tenta impedir que o seu anjo voe.
Mas Ivaneide, empregada de Will nem sabe que aquele anjo, na verdade é de Isabel. Na verdade não é de ninguém.

ML

2005/09/10

O amor é como uma flor roxa que começa na boca e termina na coxa. Coxa é Dona Matilde, outrora Carmela, a flor da Casa da Parede Violeta. E triste esse amor, que com mil nomes morreu de velho, e sem renome. Era um amor de puta. Um amor de vai e vem, quiçá o maior do mundo, quiçá alguém tenha chorado no seu enterro.
A vida continua; afinal, não importa em quantos pedaços partam o coração, o mundo não para pra ninguém juntar os Cacos. Entretanto burro é o amor, não tem tempo e nem sustento. Não paga as contas e além de cego é surdo. Tão surdo que não ouviu o “volta logo pra mim” e não viu o brilho nos olhos se apagando. O espelho ficou com os créditos (ou débitos) do tempo.
Que coisa, afinal, tudo passou. Nada dura pra sempre (será?). Pobre do espelho, espelho meu: existe alguém mais complicado do que nós? Eu e Carmela, terra de brincar com mato, fogueira pra brincar de casinha, matar as lagartas a pedradas e duas meninas sarrando entre os girassóis da chácara em Manoel Ribeiro. A infância corre como um raio no céu de meio dia, quando começam os anos da (pré)maturidade. Agora começa a dúvida mais cômica, eu e Carmela nos amamos ou só brincamos? Nesses tempos mais modernos fica o amor. O que será o amor além de três segundos de puro atravessamento e plena generosidade? Esses três segundos valem os outros dias de trabalho, fome, distância, sacanagem e aquela sensação maravilhosa de não saber o que vem depois? Só sei que nada supera o valor de tentar a sorte nesses tempos de azar.
- Madame...
- Oui, chérrie?!
- Seu banho está pronto. Posso servir a champanhe?
- Deve.
Eu e Carmela, terra de brincar com mato, fogueira pra brincar de casinha, matar as lagartas a pedradas e duas meninas sarrando entre os girassóis da chácara em Manoel Ribeiro. Repetitivo?
Ele veio com grandes mão e dinheiro, perfume e sorriso. Ela esperava molhadinha, como dia fresco. Mas certas coisas não pagam outras. E ela teve o que lhe deviam, mas não foi como quis. Só que convenhamos a vir que é melhor ser feliz só do que sofrer a dois, a três, de quatro. Talvez não, a dor faz parte da vida. Dói o parto, o cabaço, o adeus. Dói saber que faltam 16 linhas para o fim.
















ML > co-escritor: Taruga

2005/09/04

Há um tempo não atualizamos esse diário virtual. É difícil preencher de vida algo tão morto de visitantes. Principalmente quando uma de nossas colaboradoras, assídua em seus comentários, resolve não mais contribuir (dizer o que? a quem? por que? nesse clima???). Peço desculpas públicas à minha amiga por todos os climas desnecessários.
[Desculpa, Diny, mas é que tá difícil crescer...tá difícil assumir que eu não sou sua mãe...tá difícil calar a boca.]

Continuando a falar sobre este blog...penso que talvez fosse mais interessante aproveitar esse espaço para publicar contos, devaneios, histórias ao invés de falar do nosso umbigo.

E...abrindo nossa nova coluna virtual...comentarei sobre os programas na TV à cabo que passam sábado à noite.

"Eu já passo dos 50, me casei recentemente, mas uma coisa que sempre me intrigou é: porque os homens apagam depois do sexo? - pergunta Suzan à Sue (a sexóloga mais idosa da TV de hoje em dia) e a resposta segue algo assim: "Depois do gozo o refluxo nos homens é imediato, dando uma queda de energia drástica e causando sonolência perturbadora [eta! que resposta melhorada!], já nas mulheres esse refluxo é gradual, são mais ou menos 5 min. onde ela espera carícias e palavras doces, que a deixe segura antes de dormir. ATENÇÃO: cutucá-lo é permitido.

No próximo post: melhores comentários e mais ação no nosso primeiro conto erótico.

por ML.